Mulheres fortalecem sua atuação na cadeia do pirarucu

Texto: Fabíola Abess | ASPROC – Publicado em: 25.03.2025

Durante o Mês da Mulher, a importância da participação feminina na cadeia produtiva do pirarucu manejado ganha visibilidade por meio de uma ação especial promovida pelo GT de Comunicação do Coletivo do Pirarucu, em parceria com a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), membro deste grupo e organização responsável pelo arranjo comercial do Gosto da Amazônia.

Durante todo o mês de março, as mulheres que atuam no manejo sustentável do pirarucu Gosto da Amazônia estão sendo homenageadas através de áudios e vídeos que trazem seus relatos sobre a pesca e a transformação que essa atividade proporciona em suas vidas e comunidades. A iniciativa parte também de um movimento para dar visibilidade ao GT de Gênero, Juventudes e Intersecções, criado em novembro de 2023 durante a 10ª Reunião do Coletivo do Pirarucu.

Dentre essas vozes, destaca-se Ivaneide Souza Lima, manejadora de pirarucu da Comunidade do Botafogo, localizada na Reserva Extrativista (Resex) do Baixo Juruá. Para ela, ser uma mulher no manejo ainda é um desafio, mas também uma missão.

“Quando entrei no manejo, eu era a única mulher a participar com os homens. Foi difícil, sempre tem alguém para discordar da participação das mulheres. Mesmo assim, isso não me abala e não vou permitir que nenhuma das colegas desista. Essa é a nossa vocação, cuidar da natureza.”, revelou a liderança.

Cerca de 18 mulheres, moradoras de 10 comunidades em diferentes territórios amplificaram suas vozes através de áudio e vídeos com relatos sobre a vida em comunidade e a participação na pesca. Confira estas publicações no instagram @gostodaamazonia/ @coletivopirarucu

Outra liderança feminina que reforça esse protagonismo é Fernanda Morais, presidente da Associação das Mulheres Agroextrativistas do Baixo Médio Juruá (AMAB) e manejadora da Comunidade Lago Serrado, no Território Médio Juruá. Para ela, a presença feminina no manejo representa uma conquista social e econômica para o território, “uma das coisas mais importantes no manejo é o empoderamento feminino, poder ver que as mulheres têm demonstrado a sua voz e que elas têm capacidade, podendo opinar nas tomadas de decisões.”, disse Fernanda Morais.

Em números

Neste ano, a pesca do pirarucu manejado contou com a participação de 243 mulheres, com idades entre 16 e 59 anos, segundo os dados do relatório Manejo de Lagos 2024, elaborado pela ASPROC.

No entanto, a presença feminina no setor ainda enfrenta desafios, refletindo desigualdades históricas. De acordo com o relatório “Desenvolvimento Territorial no Médio Juruá com Sustentabilidade e Inclusão Social”, publicado pela ASPROC em 2023, as mulheres representam 34,11% da força de trabalho nas cinco principais cadeias produtivas em que a associação atua: pirarucu, borracha, açaí, oleaginosas e agricultura familiar.

Diante desse cenário, a ASPROC tem desenvolvido ações para fortalecer a inclusão e o empoderamento das mulheres na Amazônia, promovendo formações, dando visibilidade às suas conquistas e incentivando sua presença em todas as etapas das cadeias produtivas. Além disso, a atuação feminina no manejo sustentável do pirarucu desempenha um papel fundamental na permanência dos jovens em seus territórios.

Ao se tornarem referências no setor, as mulheres estimulam as novas gerações a permanecerem envolvidas na pesca artesanal, garantindo a continuidade dessa tradição, a geração de renda e a preservação das florestas. Dessa forma, sua participação ativa contribui para a redução do êxodo rural e o fortalecimento das comunidades ribeirinhas, promovendo a sustentabilidade e o futuro do manejo comunitário.

GT de Gênero, Juventudes e Intersecções

O Grupo de Trabalho (GT) de Gênero, Juventudes e Intersecções tem como objetivo fomentar a reflexão, o debate, a visibilidade e o empoderamento de mulheres e jovens no manejo do pirarucu no Amazonas.

Sua criação surgiu da necessidade de dar visibilidade à diversidade dentro do manejo, com foco no trabalho de mulheres, juventudes e outros grupos sociais invisibilizados. O GT busca construir caminhos mais justos e equitativos dentro da cadeia produtiva, criando condições para que todas as pessoas tenham acesso às oportunidades.

Para isso, aposta na produção e gestão do conhecimento, na formação contínua, na governança inclusiva e na captação de recursos para garantir infraestrutura adequada e suporte técnico. Dessa forma, pretende superar desafios como a falta de rede de apoio, o preconceito e a escassez de oportunidades, promovendo o empoderamento, a unidade e o reconhecimento das mulheres no manejo do pirarucu

Mulheres indígenas do Território Paumari contaram em vídeo como é participar do manejo do pirarucu.
Mulheres indígenas do Território Paumari contaram em vídeo como é participar do manejo do pirarucu. Foto: Tainara Proença